Nossos Ossos

Mas quem, dentro de nossos ossos, pôde ver sem ser convidado?

Afasta este homem de sua casa e repara. É você e é só você quem pode dizer quem vai ver estar aqui. Quem poderá ver seus ossos.

e essa coisa chamada segredo, preserve-a guardada em todos seus pelos.



o que é ser mulher hoje?



                                                                                                                                     


se possível

coloque a lua aqui. coloque uma concha. 
coloque 
e depois tire
e comece a rodar,
comece a rodar. 
eu sou daqui,
eu me movo aqui, 
eu sou daqui,
eu não sou de nenhum lugar.




                                 
                                                                                         

o cotidiano dança


Na dança de lavar os sapatos
sobre o tanque de porcelana
se destaca a água
escura
e escorre
entre as pequenas ondas

Na dança das mãos que lavam
os sapatos
o cotidiano dança
trança seu êxito
em nos conduzir
para dentro deste armário
onde meninas rezam
sua canção do coração.

Lavar, lavar. como quem canta
um mantra querido
aquele que desata o choro, o nó,
o riso.

Levar nos olhos flores d'água
e na garganta a gargalhada.

Ao cotidiano que dança -
afrouxa o riso
acerta o ritmo
imputa o rito - 
ajusta nosso destino!



Uma tarde


Na diagonal dos sentidos
Nasce a ideia herbácea
Do desapego
Eu quase estou feliz
É apenas uma tarde
E eu quase estou feliz

A mulher que eu amo




A mulher que eu amo tem na boca o mundo
E toda a palavra que ela tece é nua.
A mulher que eu amo tece as palavras com o coração
E no rio de suas emoções está sua imensa verdade.
A mulher que eu amo, eu a amo porque ela é aquilo que eu sou
E desconheço.
A mulher que eu amo, eu a amo porque ela coloca nu
Tudo aquilo de que eu tenho medo ou vergonha.
A mulher que eu amo não se expõe, porque ela nunca se vestiu.

aqui, lá. qualquer lugar. é lugar.



No fundo de mim. Lá do outro lado do oceano. No centro da terra. Fora da galáxia. No abismo oceânico. Na impermanência de tudo. No fundo de mim, no fundo.
Onde nada é... e tudo está. 

Por onde atravessam as gaivotas, os desertos, os sete mares, as músicas, as metrópoles, as fazendas, as disputas, as guerras, as famílias, as religiões, onde atravessam as moscas, as mariposas, fantasmas. Tudo atravessa, tudo passa. Eu permaneço.

No fundo de mim, no fundo. 

Onde tão pouco, onde quase nada.
Eu permaneço.

a g o r a

me falta jeito
me sinto
                           deslocada
e há todo esse medo
de perder
                 o que nunca tive
                 se não em imagens vazias

vai passar.
será que passa?


sinto na ponta do meu dedo estalar algum nexo de
mim comigo mesma. e o medo sempre nos faz companhia
como quem nos pergunta:
é agora?

mas é o próprio medo que afasta a hora.
que retarda o relógio.
apenas finge retardar, e fingimos acreditar.
na ponta do meu dedo sinto estalar algum nexo de
mim comigo mesma: é agora.

romã tica I

eu não sei mais quem eu sou

só sei que estou em você
como um algodão embebido de óleo
e vice-versa.

AINDA, para durar







de um ponto [ . ] a vida parte
a outro ponto, ou ao mesmo ponto, [ . ] a vida chega
                                           
viver entre os que chegam
e os que partem
é viver.
quando de nós um vai, e logo em seguida, a nós
outro
                                                                   chega
o que morre em nós, e o que nasce?
[pois, de certo, isso acontece]        
                                        e assim
uma frase astuta fortalece:
             relação é o que há - e acontece - entre um ponto e outro.
Lua quebrada, céu claro
no capô flor em forma
de estrela pisca
Lua na quebrada da Manhã
espia as cores
que o sol despertou

Esperança




A superfície evapora
E o corpo dança e engole
Uma poesia sem nome
Uma poesia sem palavra
Sem métrica, sem tamanho
A mulher ri
E sente-se forte de novo,
Com esperança
De fazer voar as âncoras.

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